terça-feira, 13 de abril de 2010


Do fundo escuro do coração solar do hemisfério sul, de dentro da mistura de raças que não assegura nem degradação nem utopia genética, das entranhas imundas (e, no entanto, saneadoras) da internacionalizante indústria do entretenimento, da ilha Brasil pairando eternamente a meio milímetro do chão real da América, do centro do nevoeiro da língua portuguesa, saem estas palavras que, embora se saibam de fato despretensiosas, são de testemunho e interrogação sobre o sentido das relações entre os grupos humanos, os indivíduos e as formas artísticas, e também das transações comerciais e das forças políticas, em suma, sobre o gosto da vida neste final de século. (Caetano Veloso, em e sobre “Verdade Tropical”).

Fontes das imagens deste blog:
http://franci23.files.wordpress.com/2009/01/ditadura.jpg

http://tropicalia.uol.com.br/site/internas/movimento.php

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjshOUZwBK0qNRlSY_kCXmEoTZAL-eMEivwH6wfcW8vYozAkhR3b334R5rOwVjtjQ-jkRWNpK0SxHFp5AywVYX5o82RN7DLpCImoDkvf5ljU9IpUc9pVp1YQBe-Qp6RgKJhoWeEo7NjBNEX/s1600/RAP.jpg


Apresentação Informal

Ao contrário do que imaginamos a Tropicália, Tropicalismo ou Movimento Tropicalista, foi muito mais do que um monte de gente, que alguns consideram velhos e ultrapassados, compondo uma grande quantidade de ‘musiquinhas’ que são preferência de nossos pais. Ta legal, isso pode até ser verdade, mas apenas a parte de que nossos pais curtem mais. Pois, o resto, é muito mais profundo. Então, você pode pensar: ‘mas de quê serviu ?’ É aí que está o caso, esse movimento foi o que deu origem ao nosso tipo de juventude contemporânea, pois graças a esses ‘personagens ultrapassados’, nós temos a liberdade como a conhecemos.
O Tropicalismo foi um movimento pós-vanguarda, onde, durante a ditadura militar brasileira, jovens se juntaram para “fazer história”. E realmente conseguiram. Tanto é que você está lendo esse blog que fala só sobre eles!

O movimento

O tropicalismo (1967-1968) foi um movimento (de ruptura) cultural brasileiro que teve a influência de outras correntes artísticas, sejam elas, da cultura nacional ou estrangeira(como o pop-rock e o concretismo). Seus objetivos eram de criar uma identidade cultural característica para os jovens da época. Além da música, com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Torquato Neto, Os Mutantes e Tom Zé houveram outros tipos de manifestações artísticas, como no cinema (com o Cinema novo de Gláuber Rocha), nas artes plásticas (sobretudo com Hélio Oiticica), e no teatro brasileiro (principalmente nas peças anárquicas de José Celso Martinez Corrêa).

Contexto em que o país se encontrava


No Brasil, João Goulart (presidente), propõe mudanças tentando amenizar as desigualdades e as pressões políticas que sofria por movimentos da esquerda. Foi ai que surgiu o movimento da direita, juntamente com parte da sociedade. Estes foram contra as propostas de Goulart (acusadas de comunistas). Ganharam força e venceram, em 31 de março, através de um golpe militar apoiado pelos americanos (capitalistas). O presidente foi deposto e o poder foi assumido pelo general Castelo Branco (militar) dando início á Ditadura.
Até 1968 os movimentos de esquerda tinham liberdade, com poucos problemas quanto a isso. Como prova disso produziam-se peças do Teatro Oficina. Além disso, existiam músicas protestantes. A política estava presente em tudo, direta e indiretamente.
A partir de 1967, os conflitos intensificaram-se. Como exemplo os nacionalistas de esquerda enfrentaram os vanguardistas tropicalistas. Que se manifestavam contra a desigualdade social e o autoritarismo presente na Ditadura. Propunham uma interferência internacional na cultura, dando uma nova cara a ela.
Em 1968, as manifestações estudantis, as greves operárias, entre outras, intensificaram-se. Por isso Costa e Silva (sucessor de João Goulart) endureceu ainda mais o poder, decretando em 13 de dezembro o fim das liberdades civis de expressão até 1984, quando a presidência é deixada pelo general João Figueiredo .

Festivais

Na década de 60, muitos programas de televisão comandados por músicos sugiram. Aqui surgiram os primeiros ídolos da televisão brasileira, antes mesmo de atrizes e atores. Esses festivais marcaram a história da música pela comoção que instauraram.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Repercussão Geral


No dia 15 de setembro de 1968 ocorreu o terceiro FIC (Festival Internacional da Canção Popular), no qual Caetano Veloso acompanhado pelos Mutantes, concorreu com a música ‘É proibido Proibir’. O fato é que a apresentação se transformou em uma grande confusão. Caetano estava vestido com uma ropa extremamente exótica e entrou em cena rebolando, eles mal começaram a tocar e o público já se manifestava, em seguida viraram as costas para os cantores. E os cantores, por sua vez, não exitaram, fizeram o mesmo. Em meio a isso Caetano faz um discurso, que mal se podia ouvir, contra toda aquela situação pela qual passavam.

Interpretação da música

(É Proibido Proibir, composta por: Caetano Veloso)

"A mãe da virgem diz que não
E o anúncio da televisão
E estava escrito no portão
E o maestro ergueu o dedo
E além da porta
Há o porteiro, sim…

E eu digo não
E eu digo não ao não
Eu digo: É!
Proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir…

Me dê um beijo meu amor
Eles estão nos esperando
Os automóveis ardem em chamas
Derrubar as prateleiras
As estantes, as estátuas
As vidraças, louças
Livros, sim…
E eu digo sim
E eu digo não ao não

E eu digo: É!
Proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir…

Me dê um beijo meu amor
Eles estão nos esperando
Os automóveis ardem em chamas
Derrubar as prateleiras
As estátuas, as estantes
As vidraças, louças

Livros, sim…
E eu digo sim
E eu digo não ao não
E eu digo: É!

Proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir…"


A partir da música ‘É Proibido Proibir’, composta por Caetano Veloso podemos interpretar uma série de ‘sinais’ que nos ligam ao movimento Tropicalista. Como por exemplo: na primeira parte da música, vemos que há a referência a televisão ligada diretamente com a crítica tropicalista a alienação dos jovens conservadores. Posteriormente, a proibição do qual o mesmo fala ser proibida é a da aceitação de novas influências e estéticas culturais, pelos jovens comprometidos com nacionalismo de esquerda (quer dizer anti-imperialistas). No trecho ‘Me dê um beijo meu amor’, percebemos a influência do movimento hippie, no qual o lema é a paz e o amor. Um pouco mais adiante na letra, há momentos em que os sujeitos mostram-se revoltados o que não foge do contexto em que o país se encontrava, era o período da ditadura, a política estava um caos, a população se rebelava contra a repressão.

Críticas ao movimento

O Tropicalismo, sem dúvida alguma, foi um movimento marcante de atribuições culturais que contribuíram para a contrução de uma identidade da juventude na década de 1960. Apesar disso não esteve, em nenhum momento, livre de críticas. Eram muitos os argumentos contra o movimento.
Um deles se relacionava com a política, isto se deve ao fato de que, o país estava enfretando uma
crise, na qual quem tinha o poder político eram os militares, e assim, a ditadura reinava. A partir disso muitas pessoas questionavam o fato do Tropicalismo não possuir nenhum comprometimento político direto, enquanto uma série de outros artistas lançavam canções abertamente críticas. Os participantes do movimento, por sua vez, alegavam que a intenção deles não era fazer referencia aos temas tradicionais, pois acreditavam que a mudança estética já era uma forma de revolução. Pois aí você atribui cultura e conhecimento, para que se possa moldar um novo jovem, mais crítico, mais questionador. Portanto, arte é uma forma de revolução, e o que eles tentavam atingir era exatemente isso.
Outra crítica defendia a idéia de que o Tropicalismo era o símbolo da mais burra alienação.
Os argumentos utilizados eram os de que: o movimento apenas mudava a estética, não haviam fundamentos nem articulações. Aparentava ser ousado, pela inserção de ritmos distintos e roupas absurdas, porém beirava a superfície, não ia a fundo, era uma movimento tímido e gentil. A maioria das idéias e conceitos que trazia consigo eram importados, e assim, não se poderia criar uma cultura verdadeiramente tropical, brasileira. A partir disso, muitos consideravam os percursores do movimento, sujeitos cheios de empatia e pretensão.
Estas são apenas algumas críticas, dentre a quantidade de polêmicas que o Tropicalismo gerou. Talvez por ter caráter culturamente revolucionário, que trouxe de outros lugares o que se ouvia, o que se falava, como se vestia e inseriu todas essas carcterísticas (que futuramente foram moldando-se e apropriando-se a partir do que já havia sido produzido aqui e do desejo da juventude daquela época) em um país, em meio a uma grande confusão política.

Os dias de hoje e as heranças

A Tropicália permanece até hoje em nossa sociedade. Primeiro pela presença de seus percursores: Caetano, Gil, Tom Zé, Rogério Duarte, etc., que seguem com idéias do movimento, para manifestar certas coisas que tinham ficado por falar (a questão do preconceito, por exemplo).
Além disso, uma das atividades tropicalista foi o início de uma inserção da ‘contracultura ’(onde houve a ênfase no culto do corpo, nas drogas, na vida sexual aberta e onde o rock foi o caminho de expressão para este inconformismo, que se opunha a moral familiar, a sociedade tecnológica, etc.). Isso só foi possível graças ao início da atribuição de valores trazida pelo movimento.
Outra questão é que há uma grande continuidade de produção cultural no país, e ela é resultado da mescla de cultura produzida nacionalmente com as influências que vem de fora. O que só foi possível a partir da ruptura dos valores tradicionais (característica do Tropicalismo). Houve também o surgimento de herdeiros musicais, como Adriana Calcanhoto, Lenine, Los Hermanos, além das manifestações ligadas aos sons das periferias urbanas (rap e funk). Essa derivação não esta diretamente relacionada com a questão sonora, mas sim, com atitude inovadora e a quebra de preconceitos que ocorrem, assim como evidentemente ocorreu na Tropicália.
O jovem pós-tropicalismo é mais aberto as diferentes culturas, mais ativo, audacioso e questionador (ao menos deveria ser). Reflexo de uma parcela da sociedade que no século passado fez história, por aderir novos conceitos, romper padrões morais tradicionais.